E,segundo suas próprias palavras,"nunca ultrapassando os limites/barreiras do seu sexo".De quem falo,Madame Roland,uma burguesa do séc XVIII,instruída e com idéias "do seu tempo;que queria casar-se com um homem com quem pudesse trocar idéias,conversar,acompanhar em sua vida.Identificação total,por esta parte.Conseguiu o que queria já que o dito cujo, "tecnocrata"(anacronismo,mas não tem jeito melhor de descrevê-lo)de origem "meio nobre",com quem fez uma "aliança vantajosa",tornou-se ministro do interior durante a Revolução Francesa,e ambos fizeram parte da Gironda.Recebia quatro vezes por semana todos as pessoas com quem seu marido tinha assuntos a tratar,quando saiam do gabinete,ou da Assembléia ou dos inúmeros grupos formados no turbilhão daquela época.Diz que ficava num canto,com livros,"trabalhos manuais" e sua correspondência - enorme!Fator de comunicação importantíssimo - sem celular ou internet,trocavam muito mais informações e sobre coisas seríssimas,diariamente- enquanto discutiam e só respondia ao que lhe era pedido(segundo suas palavras),depois dos assuntos tratados e sem interferir neles.Não é bem assim que o biográfo a coloca,aparece mais como o suporte de seu marido nas diferentes colocações que teve durante o período em que estiveram juntos."Redatora" de muito do que fez enquanto "homem público" - separação que não existia como hoje. Bem,e quem vemos "passar" sob sua crítica:Danton,Robespierre,Orléans e quase todos os personagens "históricos" que chegaram até nós.Sua escrita é urgente.Está presa e sabe que se encontrará com Madame la Guilhotine(morre aos 39 anos!).Seus escritos são passados para um amigo que,quando também sente a pressão aumentar,os queima.Ela os refaz,sem saber que uma parte dos anteriores sobrevive às chamas.É dessa coletânea,comentada e com inúmeras notas,que o volume foi feito.Ainda não cheguei ao fim,mas é uma leitura forte;mesmo tendenciosa(o que não é em História?),mostra uma parte dos bastidores,daquilo que não percebemos,do que fica longe dos olhos da maioria dos "não participantes".E lendo agora,quando ocorre o julgamento do mensalão,a CPI do Cachoeira e fora os inúmeros outros assuntos "políticos" em época de eleições,mesmo "menores",ufa!Quem foi "honesto","correto","probo"?!?Quem é?E uma constatação:a morte em plena juventude,dizimando uma geração.Não apenas os que sofreram a "justiça" do governo revolucionário,mas inúmeros suicídios.M. Roland fugiu de Paris e quando soube da sorte de sua esposa,matou-se.O cara por quem ela tinha se apaixonado(sim,ela era humana!)também,e muitos dos que se sentiam ameaçados ou mesmo dentro da prisão.Quem faria isso atualmente?!?Sim,outros tempos,outras sensibilidades,outras urgências.E de onde tirei este livro?Dos memorialistas que tinha começado ano passado ou no anterior(já escrevi sobre eles muito e muitos posts atrás) e tinha "sobrado"justamente este.Sincronicidade.Beijos a quem passar por aqui!
A própria,retratada com o "chapéu da Gironda"(não sei se retrato da época ou se posterior)
A capa do livro.
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