Minha cabeça estava longe,atrapalhada com minhas complicações e...de repente....tudo muito demais da conta!!!!!
Ninguém controla a "massa" depois que ela se solta e insatisfeitos todos com muita coisa errada desde sempre,cada dia que passa,desde semana passada,aparecem mais manifestações,mais estragos e também imagens lindas,como os jovens sentados ao lado dos policiais combinando o trajeto de uma das passeatas aqui em São Paulo.E os horrores dos saques e depredações,Brasil afora.
Em meio às reinvindicações os "manos" atacam,encapuzados,incapazes de se agregar a algo que não seja a destruição.
Pena.é um momento grandioso que ninguém sabe aonde vai dar,mas que mostra que nem todo mundo está babando no futebol e nem interessado no capítulo da novela.Sim,os inconPeTentes mostram seu despreparo,desperdiçando a hora,esquecendo anos de luta para estabelecer a democracia no Brasil e também pra mostrar a que vieram.Fico aqui,lembrando do Movimento das Diretas Já,de como abriu as cabeças,colocou gente na rua e foi depois,"traído" pelos políticos -sim,sempre eles.A deposição do Collor,depois do plano que roubou as poupanças do país,trouxe os muito jovens para a rua,o que vemos novamente agora.
Temo apenas o descontrole,exatamente dos que estão na rua só por estar,para badernar mesmo,que não lutam por nada,querem pronto e não vão conseguir,espero,estragar a beleza da participação das pessoas conscientes.
É Fernandinho,bonito emprego o seu,né não?
Sim,sem partidos,sem "ideologias",sem teorização à toa!
E trago um mestre no assunto "Brasil",contextualizando como ninguém este momento de grandeza da cidadania:
19/06/2013 - 03h32
O monstro foi para a rua
Em dezembro de 1974, a oposição havia derrotado a ditadura nas urnas, elegendo 16 dos 21 senadores, e o ex-presidente Juscelino Kubitschek estava num almoço quando lhe perguntaram o que acontecia no Brasil.
- O que vai acontecer, não sei. Soltaram o monstro. Ele está em todos os lugares.
Abaixou-se, como se procurasse alguma coisa embaixo da mesa e prosseguiu:
- Ele está em todos os lugares, aqui, ali, onde você imaginar.
- Que monstro?
- A opinião pública.
Dois anos depois JK morreu num acidente de automóvel e o monstro levou-o no ombros ao avião que o levaria a Brasília. Lá ocorreu a maior manifestação popular desde a deposição de João Goulart.
Em 1984 o general Ernesto Geisel estava diante de uma fotografia da multidão que fora à Candelária para o comício das Diretas Já.
- Eu me rendo --disse o ex-presidente, adversário até a morte de eleições diretas em qualquer país, em qualquer época.
Demorou uma década, mas o monstro prevaleceu. O oposicionista Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral e a ditadura finou-se.
O monstro voltou. O mesmo que pôs Fernando Collor para fora do Planalto.
No melhor momento de seu magnífico "Pós Guerra", o historiador Tony Judt escreveu que "os anos 60 foram a grande Era da Teoria". Havia teóricos de tudo e teorias para qualquer coisa. É natural que junho de 2013 desencadeie uma produção de teorias para explicar o que está acontecendo. Jogo jogado. Contudo, seria útil recapitular o que já aconteceu. Afinal, o que aconteceu, aconteceu, e o que está acontecendo, não se pode saber o que seja.
Aqui vão sete coisas que aconteceram nos últimos dez dias:
1) O prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin subiram as tarifas e foram para Paris, avisando que não conversariam nem com os manifestantes. Mudaram de ideia.
2) Geraldo Alckmin defendeu a ação da polícia na manifestação de quinta-feira passada. Mudou de ideia e pacificou sua PM.
3) O comandante da PM disse que sua tropa de choque só atirou quando foi apedrejada. Quem estava na esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia não viu isso.
4) Dilma Rousseff foi vaiada num estádio onde a meia-entrada custou R$ 28,50 (nove passagens de ônibus a R$ 3,20).
5) O cartola Joseph Blatter, presidente da Fifa, mandarim de uma instituição metida em ladroeiras, achou que podia dar lição de moral aos nativos. (A Viúva gastará mais de R$ 7 bilhões nessa prioridade. Só no MaracanãX, torraram R$ 1,2 bilhão.)
6) A repórter Fernanda Odilla revelou que o Itamaraty achou pequena a suíte de 81 m² do hotel Beverly Hills de Durban, na África do Sul, e hospedou a doutora Dilma no Hilton. (Por determinação do Planalto, essas informações tornaram-se reservadas e, a partir de agora, só serão divulgadas em 2015.)
7) A cabala para diluir as penas dadas aos mensaleiros que correm o risco de serem mandados para o presídio do Tremembé vai bem, obrigado. O ministro Dias Toffoli, do STF, disse que os recursos dos réus poderão demorar dois anos para ir a julgamento.
Para completar uma lista de dez, cada um pode acrescentar mais três, ao seu gosto.
Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por "As Ilusões Armadas". Escreve às quartas-feiras e domingos na versão impressa de "Poder".
Update 20-06-2013:
Nem precisa falar muito,foram os 0,20 centavos mais caros da História:
JÔ Explica....
Pra quem não entendeu ainda: os vinte centavos, um por um:
00,01 - a corrupção
00,02 - a impunidade
00,03 - a violência urbana
00,04 - a ameaça da volta da inflação
00,05 - a quantidade de impostos que pagamos sem
ter nada em troca
00,06 - o baixo salário dos professores e médicos
do estado
00,07 - o alto salário dos políticos
00,08 - a falta de uma oposição ao governo
00,09 - a falta de vergonha na cara dos governantes
00,10 - as nossas escolas e a falta de educação
00,11 - os nossos hospitais e a falta de um sistema
de saúde digno
00,12 - as nossas estradas e a ineficiência do
transporte público
00,13 - a prática da troca de votos por cargos
públicos nos centros de poder que causa distorções
00,14 - a troca de votos da população menos
esclarecida por pequenas melhorias públicas (pagas com dinheiro público) que
coloca sempre os mesmos nomes no poder
00,15 - políticos condenados pela justiça ainda na
ativa
00,16 - os mensaleiros terem sido julgados,
condenados e ainda estarem livres
00,17 - partidos que parecem quadrilhas
00,18 - o preço dos estádios para a copa do mundo,
o superfaturamento e a má qualidade das obras públicas
00,19 - a mídia tendenciosa e vendida
00,20 - a percepção que não somos representados
pelos nossos governantes
E da próxima vez que houver alguma manifestação,certamente vão planejar muito mais suas ações e se mostrarem "governantes"
O inverno da nossa esperança
O Brasil tem uma dívida de gratidão com o governador Geraldo Alckmin. Se ele
não tivesse soltado a tropa de choque em cima dos manifestantes que protestavam
em São Paulo contra o aumento do preço das passagens, é possível que o maior
movimento social do país jamais tivesse chegado às ruas. A onda de indignação
começou a se formar assim que as primeiras fotos e vídeos das agressões da
polícia circularam pela internet; ela se transformou em tsunami quando, horas
depois, o governador veio a público defender a polícia e atacar os
manifestantes. Como assim? Quer dizer que o cidadão, que paga a conta, ainda
tem que aguentar todos os desaforos do governo caladinho, fechado em casa?! É
isso?!
Para quem estava nas redes sociais, o que aconteceu a partir daí rolou como um
filminho. Subitamente, todos os outros assuntos retrocederam, como fez a maré
na Ásia, e as timelines foram tomadas pela insatisfação geral. No sábado, o
Twitter e o Facebook mal aguentavam o peso da comoção. Algo de grande e de
inesperado estava se formando. No dia seguinte, tentei definir o que estava
sentindo:
" Estou maravilhada com o que está acontecendo no país. Há quem se queixe
que a população não se manifestou em relação ao mensalão, à PEC 37, à
roubalheira em geral e à da Copa em particular, e que o preço da passagem seria
uma causa "menor"; mas a gente nunca sabe qual é a gota d'água, qual
é o estopim que faz com que todo mundo tenha vontade de gritar junto. O que no
começo era só um protesto contra 20 centavos virou o protesto que todos
queríamos, contra todas as desfeitas que nos vêm sendo feitas de todos os
lados, por todos os partidos, por todos os poderes.
É um protesto que, pelo menos à primeira vista, "pegou".
Ao longo dos últimos anos, fui chamada para N manifestações diferentes, muitas
das quais coincidiam com a minha opinião. Nenhuma, porém, tinha jeito de dar
liga. Faltava sempre alguma coisa que não sei definir -- e que talvez fosse até
a polícia na rua, quem sabe? Faltava a empolgação geral, o arrepio na espinha,
a massa crítica.
Agora é diferente.
Pela primeira vez em muitos anos -- mais especificamente, desde o impeachment
do Collor -- dá para sentir uma tensão no ar, um alento, o brilho de uma
esperança coletiva que não discrimina sexo, idade, classe social.
As manifestações da semana que vem podem não dar em nada. A ideia dos panos
brancos nas janelas pode -- sem trocadilho -- passar em branco. É possível até
que o momento de indignação geral já tenha passado quando a quinta-feira chegar
e for a nossa vez de, aqui no Rio, ir às ruas (eu estava mal informada, não
sabia que já tínhamos protesto marcado para a segunda-feira). Penso muito nisso,
para não dar corda demais às minhas expectativas e não me amargurar se nada
acontecer.
Mas também pode ser que estejamos diante de um grande momento. Que não será
apenas um protesto contra o aumento das passagens, mas uma formidável
manifestação de cidadania -- algo de que nos orgulharemos no futuro, e que
contaremos, cheios de saudades, aos nossos filhos e netos."
Até agora, 2h12 de quarta-feira, não tenho motivo para amargura; ao contrário,
estou feliz, orgulhosa do meu país e da minha cidade. Quem pede foco aos
manifestantes ainda não entendeu que, antes de qualquer coisa, este é um
movimento pela cidadania, um movimento que diz ao poder canalha que temos que
ele não nos representa.
"O povo unido protesta sem partido", gritava a moçada em Porto Alegre.
Eles me representam.
o O o
A hashtag #ForaDilma disparou
para o primeiro lugar nos TTs (trending topics) do Twitter na terça-feira à
noite, logo após a burocrática e irrelevante declaração da presidente sobre as
manifestações. Não tenho nenhuma simpatia por ela, muito antes pelo contrário,
mas acho que definitivamente não é por aí -- mesmo porque as alternativas para
substituí-la, ao menos no momento, são Michel Temer e Renan Calheiros.
A meu ver, as manifestações não são contra A, B ou C, mas contra a classe
política como um todo. Cansamos de ver o nosso dinheiro indo para o lixo,
cansamos de ver Brasília transformada num balcão de negócios, cansamos da
roubalheira e do deboche dos nossos governantes. Todos eles. De todos os
partidos, de todos os poderes e de todas as esferas.
"O povo acordou, o povo decidiu, ou para a roubalheira ou paramos o
Brasil", entoavam os manifestantes em Juiz de Fora. Eles me representam.
o O o
Justo no meio disso tudo, a presidente -- a "presidenta", a chefona,
a manda-chuva, a über-faxineira, a mulher que só fala aos gritos com os seus
comandados -- deixou Brasília para ir a uma consulta urgente em São Paulo...
com o seu marqueteiro!
Putz. Essa não entendeu nada mesmo. E não, ela não me representa.
o O o
Há pouco tempo, vi uma foto da Avenida Rio Branco muito parecida com a que
vimos no dia da manifestação. Era a foto do desfile do Bola Preta no carnaval,
lembram? A diferença é que naquela foto, segundo a polícia, havia um milhão de
pessoas. Eu não sei como essas contas são feitas, mas eu gostaria muito que
alguém me explicasse por que a avenida cheia no carnaval tem um milhão de
pessoas, e a avenida cheia na manifestação tem cem mil. Aceito desenhos.
(O Globo, Segundo Caderno, 20.6.2013